Diante de uma câmera fixa, perguntas íntimas direcionadas aos habitantes de Cali acabam por dizer muito sobre o cenário da própria cidade e do país em seus âmbitos político, social, econômico e cultural.
“O amor existe?” “Você é feliz?” “O que você sonhou à noite?” Luis Ospina brinca com o que seria uma enquete de opiniões coletadas de maneira intrigante e bem-humorada. Conhecemos os relatos dos passantes e, não por acaso, o pano de fundo é o próprio espaço da cidade onde vivem, que dialoga com os temas das perguntas – aproximando o discurso do território em questão, como uma espécie de cartografia espacial do sentimento. Suas indagações atraem respostas profundas sobre a própria existência e não deixam de estar intrinsicamente relacionadas com o entorno que circunda todo e qualquer ser humano. Com formato semelhante ao que se vê nas reportagens televisivas, isto é, uma coleção de sujeitos anônimos imersos na massa, as exposições individuais e únicas jogam com a identificação do próprio espectador. O filme é permeado pela falta de perspectiva dos caleños, que expressam seus sonhos e desejos, ainda que frustrados. É possível observar válvulas de escape e planos de fuga diante das decepções políticas desses atores sociais. Ao final, assistimos a uma crônica da vida urbana colombiana do fim dos anos 1980, narrada coletivamente e costurada pelo realizador. (Paula Ramos)
08 de julho, sábado, 15h00