O Caixa Belas Artes recebe, em novembro, mês da consciência negra, a mostra África(s). Cinema e Revolução, uma homenagem ao cinema criado no contexto de independência e revolução dos países africanos. Com curadoria de Lúcia Ramos Monteiro, a mostra, patrocinada pela Caixa Econômica Federal, terá 39 produções exibidas, entre curtas e longas-metragens. Ao longo da programação, estão previstas sessões acompanhadas de debates com cineastas e especialistas no assunto, além de oficinas de cinema. Jean Rouch, José Celso Martinez Corrêa, Ruy Guerra, Murilo Salles, Licínio Azevedo, Santiago Álvarez, Margarida Cardoso e Sarah Maldoror estão entre os cineastas que terão seus filmes exibidos na mostra.

África(s). Cinema e Revolução começa na véspera do dia da independência de Angola, conquistada em 11 de novembro de 1975. Dentre os títulos da programação, vários deles são ligados à data, como Monangambee (1968) e Sambizanga (1972), ambos realizados por Sarah Maldoror com base em obras literárias do escritor angolano José Luandino Vieira. A mostra também traz a São Paulo alguns filmes de Santiago Álvarez, figura central do cinema revolucionário cubano, que dedicou a Angola e a Moçambique documentários realizados logo após as independências: O milagre da terra morena (1975), Maputo, meridiano novo (1976) e Nova sinfonia (1982).

Da produção africana mais recente, um dos destaques é o filme Na cidade vazia (2004), de Maria João Ganga. Foi o segundo filme feito em Angola depois da independência e o primeiro feito por uma mulher no país. Há também o premiado A República dos Meninos (2012), de Flora Gomes.

A maioria dos filmes jamais foi vista no Brasil. Os títulos de Maldoror estão entre os inéditos no país, assim como os de Mathieu Kleyebe Abonnenc e de Raquel Schefer, além de alguns curtas de Ruy Guerra. Outras atrações foram exibidas em ocasiões muito raras, como 25, de Zé Celso e Celso Luccas, em cartaz apenas na primeira edição da Mostra Internacional de Cinema de SP, em 1977. Algumas das produções serão exibidas em 35 mm, como Xime (1994), do guineense Sana Na N’Hada, Árvore de sangue (1996), de Flora Gomes, também da Guiné-Bissau, e Tabu (2012), do português Miguel Gomes.

Na programação paralela, estão confirmadas as presenças de nomes como Ruy Guerra, que filmou em Moçambique nas décadas de 1970 e 1980; Celso Luccas que, junto a Zé Celso, codirigiu, durante o exílio do Teatro Oficina, aquele que é talvez o primeiro longa-metragem moçambicano, 25 (1975); o moçambicano Camilo de Sousa e o guineense Flora Gomes; além da portuguesa Raquel Schefer, que vem trabalhando a memória colonial através de arquivos familiares, e do francês Mathieu Abonnenc, que também se dedica ao imaginário colonial e pós-colonial. A historiadora Vavy Pacheco, especialista na obra de Ruy Guerra, também estará presente. Serão promovidas, ainda, duas oficinas gratuitas sobre Memória e Audiovisual: no dia 12, com a cineasta convidada Raquel Schefer; no dia 19, com a documentarista e pesquisadora Lilian Solá Santiago, criadora e diretora da Casa da Memória Negra de Salto.

Cineastas mulheres
Diversos filmes em cartaz retratam a contribuição das mulheres nas lutas de independência. É o caso do documentário Mulheres da guerra (1984), da cineasta holandesa Ike Bertels, e de Yvone Kane (2014), de Margarida Cardoso, ambos sobre a participação de soldadas mulheres nas lutas de independência. O longa de ficção Yvone Kane retrata a busca por uma importante guerrilheira africana, e tem Irene Ravache como uma das protagonistas. Trata-se de uma importante produção portuguesa que ainda não estreou comercialmente no Brasil. Margarida Cardoso é também realizadora do premiado documentário Kuxa Kanema (2003), que narra a história da fundação do cinema moçambicano através dos cine jornais Kuxa Kanema. A cineasta Sarah Maldoror, que nasceu na ilha caribenha de Guadalupe, estudou em Moscou e foi fundadora do cinema de Angola, estará representada por dois de seus filmes, Monangambee e Sambizanga, este último apresentado por sua filha, Annouchka de Andrade. Sua obra é caracterizada por um caráter combativo, e por isso tem um famoso histórico de censuras. Um de seus filmes foi queimado e as fotografias que restaram são a base de Prefácio a Fuzis para Banta (2011), de Mathieu Abonnenc, também em cartaz na mostra.

Esperamos por vocês!